BMW GS Brasil

Versão Completa: Coisas sobre a BMW que você não sabia....
Esta é uma versão reduzida do nosso conteúdo. Ver versão completa com o formato adequado.
Páginas: 1 2 3 4 5 6
Fantástico Guilherme!

Aguardando ansiosamente os próximos capítulos!


Enviado do meu iPad usando Tapatalk
Excelentes informações, obrigado Guilherme!
Gnegraes Escreveu:Eu mesmo.... en passant, você já leu???
Tenho outros comigo, com todos os dados de todas as motos fabricadas pela BMW. Só não tenho os desenhos de fabricação das peças...Cool

Sim. Já li o livro todo. Obrigado pela recomendação.
Ótima iniciativa, aguardando os próximos capítulos, e que sejam muitos.
Iceman Escreveu:Conhecimento nunca é demais.

Se precisar, tenho o livro da história da GS em casa (aliás, acho que foi vc mesmo que me recomendou).

onde consigo um livro desses?
tambem aguardando ansiosamente por novidades da bmw que não tinha conhecimento... muito legal
Almeida. Escreveu:onde consigo um livro desses?

Olá Almeida,
O livro em questão está em alemão, a maior riqueza dele está nos textos muito detalhados de como surgiu a família GS dentro da BMW.
Se você não fala alemão, acho que seria muito caro para ter fotos, que você obtém grátis às centenas na web.
Custa 30 Euros, fora o custo do envio, e com o câmbio como está hoje sai por uns R$300....
Gnegraes Escreveu:BMW - a origem da marca



A BMW Bayrische Motorenwerke surgiu oficialmente em 1917. Ela era resultado da associação de dois fabricantes de motores aeronáuticos, a Rapp Motorenwerk e a Otto-Werke.

[ATTACH=CONFIG]10424[/ATTACH]

O dono da Otto-Werke era o engo. Gustav Otto, filho do inventor do motor 4 tempos, Nicolaus Otto, que foi patenteado em 1877. Daí se vê que o DNA da origem da empresa era muito técnico e inovador na engenharia mecânica.
A firma Rapp Motorenwerk estava passando por apuros e essa fusão com a Otto-Werke veio trazer estabilidade à empresa.

[ATTACH=CONFIG]10425[/ATTACH]
Gustav Otto

Em 1913 a Rapp recebeu uma encomenda muito grande de motores das forças armadas alemãs. Devido à iminência de conflito na Europa, Rapp foi solicitado a fazer motores de 6 e oito cilindros para reforço das aviações da Alemanha e da Áustria.
Com o início da Guerra em 1914, os motores construídos pela Rapp se mostraram pouco confiáveis e de baixa performance e com isso os militares se recusaram em comprar mais. Rapp então depositou suas esperanças em fabricar motores aeronáuticos sob licença da Austro-Daimler. Franz Josef Popp inspecionou as instalações como representante dos militares e declarou ser possível a tarefa. Popp trabalhou como supervisor de produção e assumiu o comando da empresa quando Karl Rapp renunciou.

[ATTACH=CONFIG]10426[/ATTACH]
Franz Josef Popp

A companhia tinha adquirido uma péssima reputação dos tempos de Rapp e os militares estavam cientes disso. Para dar um ar fresco no reinício da empresa, os proprietários a renomearam de BMW Bayrische Motorenwerke e conseguiram um pedido para fabricar motores sob licença da Austro-Daimler. Trouxeram um jovem engenheiro chamado Max Friz para assumir o departamento de engenharia da empresa. De imediato ele desenvolveu um novo motor de 6 cilindros em linha, com uma enorme vantagem sobre a concorrência: um carburador ajustável que permitia enriquecer a mistura ar/combustível na decolagem e empobrecia a mistura conforme a altitude do avião aumentava. O novo motor tinha uma performance tão boa em grandes altitudes que em poucos meses todos os aviões alemães usavam esse motor.

[ATTACH=CONFIG]10427[/ATTACH]
Max Friz

Com o término da guerra, a BMW continuou a fabricar motores e em 1919 o piloto Franz Zeno Diemer bateu o recorde mundial de altitude alcançando mais de 32.000 pés ou 9.750 metros com o motor IVa.

[ATTACH=CONFIG]10428[/ATTACH]
Franz Zeno Diemer

[ATTACH=CONFIG]10429[/ATTACH]
Motor IVa recordista de altitude em 1919

Com a assinatura do Tratado de Versailles em 1919, a Alemanha foi proibida de fabricar equipamentos para a indústria bélica e Popp começou a busca por produtos que pudesse fabricar para manter a firma. Por sorte havia uma enorme demanda por motores para a agricultura, tratores e motores marítimos e a BMW começou a busca por clientes nesses nichos de mercado. Popp conseguiu um grande contrato para fabricar freios para locomotivas e vagões ferroviários e com isso estabilizou financeiramente a firma.
O gerente de produção, o engo. Martin Stolle, sugeriu que começassem a fabricar motocicletas. Ele era um entusiasta do motociclismo e em 1920 começou a projetar e experimentar motores para motos. Ele desenvolveu vários projetos e protótipos de motores de 2 cilindros opostos tipo boxer utilizando conceitos do motor Douglas inglês, até criar o modelo M2 B15, que se mostrou um sucesso e começaram a receber pedidos da fábrica de motocicletas chamada Victoria da cidade de Nuremberg, próxima e ao norte de Munique.

[ATTACH=CONFIG]10430[/ATTACH]
motor M2 B15

Características do motor M2B15:
Volume: 494cc
pistões: 68mm de diâmetro
deslocamento: 68mm
camisas: ferro fundido
cabeçote: ferro fundido
válvulas: laterais
carburador: 1 estágio
potência: 6,5 HP @ 3.000rpm
peso: 32 kgf

[ATTACH=CONFIG]10431[/ATTACH]
Motocicleta Victoria

[ATTACH=CONFIG]10432[/ATTACH]
Martin Stolle em uma Victoria

Com o sucesso das motos Victoria, outros fabricantes procuraram a BMW para comprar seus motores e o M2B15 se tornou um sucesso na Alemanha.
Apesar do negócio de freios ferroviários ser lucrativo, Popp estava ansioso em abandonar o negócio. No verão de 1922 ele separou as empresas em duas e com apoio financeiro do industrial austríaco Camillo Castiglioni, ele adquiriu os direitos sobre os projetos de motores BMW e estabeleceu a nova empresa. Com a juda de sócios chave no negócio, Stolle e Friz, ele mudou a fábrica para uma das muitas empresas de Castiglioni, a Bayrische Flugzeugewerke, conhecida como BFW.

[ATTACH=CONFIG]10433[/ATTACH]

Camillo Castiglioni
Como curiosidade, a firma fabricante de freios existe até hoje e é a famosa Knorr Bremse, uma das maiores fabricantes no mundo e fornecedora de freios para caminhões, trens, etc. e tem filial no Brasil.
Durante a Guerra, a BFW tinha fabricado componentes para aviões e feito manutenções e reparos para os militares. Assim como a BMW, eles foram forçados pelo Tratado de Versailles a paralisar sua produção. Liderado pelo engo. Karl Ruhmer, ele desenvolveu uma pequena motocicleta que na realidade era uma bicicleta motorizada com o apelido de Flink.

[ATTACH=CONFIG]10434[/ATTACH]
Flink

Fabricou também uma moto de nome Helios e que usava o motor M2B15. A Flink e a Helios não eram muito populares devido a fragilidade dos quadros. A quebra das motos quase levou a BFW à falência mas os motores da BMW se mostravam excelentes nos outros fabricantes de moto.

[ATTACH=CONFIG]10435[/ATTACH]
Helios

A colaboração técnica entre a BFW e a BMW mostrou claramente que havia um único objetivo: desenvolver um novo quadro que pudesse usar o motor M2B15 da BMW. Popp designou a Friz fazer o novo projeto desta moto. Friz foi um pouco relutante no início em embarcar nesse projeto, afinal ele era um engenheiro aeronáutico e não um projetista de motos. De qualquer forma ele tinha adquirido alguma experiência com motos e com isso ele se mostrou disposto a encarar o projeto.

Trabalhou durante 4 meses, sozinho, em sua cabana nos Alpes. O resultado deste trabalho é a R32, com todos os desenhos, detalhes e soluções, pronta a ser fabricada. A designação R é de Rad (roda) para diferenciar dos outros projetos de motores aeronáuticos; a designação 32 é uma incógnita até hoje. Com a má experiência dos chassis da Helios, ele criou uma estrutura triangular bastante rígida e instalou o motor M2B33, que ele fez como uma evolução do M2B15. O motor teve a sua posição alterada para melhorar o resfriamento dos cilindros, com o layout que tem até os dias de hoje.

[ATTACH=CONFIG]10436[/ATTACH]

[ATTACH=CONFIG]10437[/ATTACH]







Show.. muito bom
Como havia prometido, aqui vai o segundo Capítulo da série e que conta um pouco sobre a lendária R32, a primeira da BMW e que é uma verdadeira obra de arte, considerando a tecnologia embarcada, design, ciclística, confiabilidade e desempenho. Quando se visita fóruns especializados em motos do início do século XX, isso fica muito claro. Espero que possam aproveitar. Mais do que o texto resumido, tentei mostrar nas imagens a riqueza e a preocupação nos detalhes desta moto. As imagens busquei algumas na web e muitas são de livros que tenho na minha biblioteca.


BMW R32 1923 – o início de tudo...

O presidente da BMW Franz Josef Popp designou o engo. Max Friz para desenvolver o projeto de uma motocicleta que viesse a substituir as motos Flink e Helios que a BMW produzia e que possuíam uma imagem muito ruim no mercado, devido à fragilidade de seus quadros, mesmo que seu motor M2B15 fosse um sucesso em vários fabricantes alemães de motos, como a Victoria por exemplo.

[ATTACH=CONFIG]10506[/ATTACH]
Max Friz


Para iniciar o projeto para o qual foi designado, Friz se recolheu em sua cabana nos Alpes da Bavária. Durante 4 meses trabalhou exclusivamente neste projeto, tendo feito sozinho todos os desenhos, especificações de materiais e detalhes de produção. O motor que a BMW fabricava com sucesso, o M2B15, foi totalmente redesenhado e sofreu inúmeras melhorias, tendo recebido a designação de M2B33.


[ATTACH=CONFIG]10507[/ATTACH]


[ATTACH=CONFIG]10508[/ATTACH]
Aqui se vê claramente o posicionamento das válvulas e seu acionamento por tuchos.


O motor possuía cárter e bomba de óleo, que lubrificava todos os pontos do motor, em circuito fechado. Não havia consumo de óleo e não havia necessidade de adicionar óleo regularmente e fazer a lubrificação manualmente do motor. Esse foi um dos grandes avanços do projeto deste motor em comparação a todos os outros motores de motos da época.


[ATTACH=CONFIG]10509[/ATTACH]
Vista explodida do motor


A R32 e o motor M2B33 tinham as seguintes características:

Designação do motor: M2B33
Tipo: 4 tempos, a gasolina, 2 cilindros horizontais opostos (motor boxer)
Diâmetro e curso dos pistões: 68mm x 68mm
Deslocamento: 494cc
Potência: 8,5HP @ 3.200rpm
Relação de compressão: 5,0 : 1
Válvulas: laterais
Alimentação: 1 carburador BMW especial, diâmetro 22mm
Câmbio: 3 marchas
Ignição: magneto Bosch
Quadro: em tubos de aço, em anel duplo
Suspensão dianteira: feixe de molas duplo, cantilever
Suspensão traseira: rígida
Rodas: 26” x 2,5” dianteira e traseira
Pneus: 26” x 3” dianteiro e traseiro
Freio dianteiro: tambor 150mm com sapatas internas (na segunda série em 1925)
Freio traseiro: sapatas de freio sobre polia de aço montada sobre os raios da roda traseira
Distância entre eixos: 1.380mm
Peso: 122kgf
Numeração dos motores: de 31.000 a 34.100
Numeração de quadros: de 1.001 a 4.100
Motos produzidas entre 1923 e 1925: 3.090


[ATTACH=CONFIG]10510[/ATTACH]


[ATTACH=CONFIG]10511[/ATTACH]


A admissão de ar se dava na carcaça do volante do motor, indo ao carburador e daí aos 2 cilindros.

O motor foi montado com os cilindros voltados para as laterais, obtendo com isso uma excelente refrigeração em comparação com todas as outras motos da época de mais de 1 cilindro, que aqueciam de forma indesejada os cilindros traseiros.
As válvulas laterais e o posicionamento do motor permitiam o acesso fácil para regulagem, evitando desmontagens do motor ou de partes da moto para acessar os cabeçotes.

Finalmente a sua transmissão através de um eixo indo diretamente a uma caixa de engrenagens cônicas no eixo traseiro, eliminava toda e qualquer manutenção, como as exigidas pelos sistemas de época, de correias e correntes com frequentes ajustes e lubrificação. A caixa de engrenagens era lubrificada por imersão em graxa e montada na extremidade final do quadro, conferindo rigidez ao eixo traseiro.

O quadro era extremamente rígido e devido ao posicionamento do motor, a R32 tinha um centro de gravidade muito baixo, conferindo-lhe uma estabilidade muito grande e ciclística excelente.

A velocidade máxima da R32 é de 96km/h, o que é bastante razoável, visto que as velocidades médias nas rodovias era de 60km/h. Seu tanque de gasolina tinha uma capacidade de 14 litros. O consumo era muito baixo, fazendo em média 36km por litro de combustível, o que significa uma autonomia de 500km.


[ATTACH=CONFIG]10512[/ATTACH]
Notar que o pedal do freio traseiro era acionado com o calcanhar.


[ATTACH=CONFIG]10513[/ATTACH]
Esta foto mostra as sapatas do freio sobre a polia montada sobre os raios da roda.


O projeto da R32 ficou pronto em dezembro de 1922 e a moto BMW R32 foi apresentada ao público no Salão de Paris em 1923, representando o estado da arte em design motociclistico. Seu quadro triangular e sua transmissão bastante compacta conferiu a ela uma linha esbelta, estreita e com avanços tecnológicos e que moldaria o design BMW para as décadas futuras.

Com este projeto, a BMW se posicionou no mercado como fabricante de motos de alta tecnologia, confiáveis, de acabamento impecável, bom desempenho e design elegante.


A seguir fotos de detalhes da R32:


[ATTACH=CONFIG]10514[/ATTACH]


[ATTACH=CONFIG]10515[/ATTACH]


[ATTACH=CONFIG]10516[/ATTACH]


[ATTACH=CONFIG]10517[/ATTACH]

[ATTACH=CONFIG]10518[/ATTACH]
Vista superior mostrando o tanque, guidão, manetes, velocímetro, alavanca de câmbio, faróis, alavancas de avanço da ignição, etc.


[ATTACH=CONFIG]10519[/ATTACH]
Detalhe do acionamento do velocímetro, que é feito através de cabo de aço dentro de capa de aço e através de polia com correia de borracha de perfil redondo, sobre o tambor de freio dianteiro.


[ATTACH=CONFIG]10520[/ATTACH]
Detalhe da mesa com manípulo da fricção de discos para endurecer/amolecer o giro do guidão, velocímetro e botão de acionamento da buzina.


[ATTACH=CONFIG]10521[/ATTACH]
Detalhe do acabamento da manete e alavancas de acionamento


[ATTACH=CONFIG]10522[/ATTACH]
Vista frontal do garfo dianteiro, molas da suspensão, faróis, buzina, conjunto do velocímetro


[ATTACH=CONFIG]10523[/ATTACH]
Detalhe do cabeçote com a vela de ignição e as tampas de acesso às válvulas


[ATTACH=CONFIG]10524[/ATTACH]
Detalhe do carburador. Notar que ele é montado diretamente sobre a bloco do motor e aspira o ar de dentro da carcaça que envolve o volante do virabrequim


À época do lançamento da R32 a Alemanha já experimentava uma relativa estabilidade econômica e à moeda, o Marco Alemão (Deutsche Mark DM). O preço de venda do modelo básico era de DM 2.200 e o modelo com todos os acessórios como buzina, segundo farol, segundo banco e velocímetro era de DM 2.600, o que de qualquer forma era um bom investimento. Mas devido à qualidade da R32 e seu desempenho e confiabilidade, no primeiro ano venderam 1.500 motos o que é bastante significativo para um produto novo no mercado.

Abaixo vão dois links de filmes da R32 no Youtube:

https://youtu.be/7Ix8I17GzjM

Obs.: notem neste filme que o piloto está ajustando o avanço da ignição na alanca situada no manete direito. A outra alavanca no manete direito, a maior, é o acelerador. Quase todos as motos e muitos automóveis nesta época possuíam ajuste manual do avanço da ignição. Nas motos isso facilitava sobremaneira a partida com pedal, pois atrasando o ponto de ignição para depois do PMS (ponto morto superior do pistão) se evitava os contra golpes no pedal e a partida era muito mais fácil e macia.

https://youtu.be/10s_flzyu7s
Guilherme
Estou acompanhando seus ótimos e esmerados relatos, muito obrigado!
Abraço,
Benício
Páginas: 1 2 3 4 5 6