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12º ENX - relato pessoal do Leandro
#7
- Dia 2 – período da manhã e primeira parte
Apeei cedo, pernoite de motel, ô vida! A chinela cantou a noite toda, e não foi no meu quarto. Chuva boa de dormir, apaguei pelado como vim ao mundo e não vi mais nada. Acordei com os pássaros cantando, e o barulho longínquo dos caminhões na rodovia.

Sai antes do café da manhã. Sim, estava incluso no pernoite, um luxo. Fiz questão de procurar a bimboca no mapas, Motel Vertuno em Carmópolis de Minas, para trazer ao relato, e também porque algo tão importante não poderia passar batido. E deixei o desjejum para depois que passasse a grande BH. Saí com as roupas de baixo molhada, cueca, calça, bota e meia, porque o espertalhão não quis por a capa na parte de baixo.

Tomei meu café num posto na saída de Ribeirão das Neves, depois de não errar nenhuma entrada cruzando a maior metrópole Mineira. Estou ficando bom em usar GPS. Trem bão! Posto e lanchonete chefão, já na duplicada 040, pouco mais de 130 km rodados até então, com a roupa quase seca, faltava somente a meia, porque a bota só é impermeável de fora para dentro, não o oposto. Três cafés, um pão com ovo e queijo, como tem que ser quase todas as manhãs, além claro, do tradicional chamado da natureza pela manhã. Viva o ciclo circadiano!

Na saída do café estiquei a prosa com um senhor, cujo nome é bom não mencionar dada as desventuras dele aqui no entorno da terrinha. Pelo brilho no olhar ao narrar, ele sente mesmo saudades dos doces de Piranguinho. Baiano, apresentou ele o apelido, embora seja Sergipano. Baiano contou que estivera jurado de morte pelo ex de uma morena, depois de se enamorarem. Deu detalhes, nomes, citou locais que só mesmo os locais conheceriam, como o bem falado torresmo no bar da Maria em Itajubá, a subida braba de serra para Delfim Moreira, entre outras coisas tantas. Baiano tem mesmo paixão pela vida, e contou estar em uma viagem que ruma para os 2 anos. Foi ao Sul, visitou as Cataratas no Iguaçu, a coca Paraguaia, e tudo mais um tanto. Nesse interim tinha visitado as montanhas no Sul de MG, o norte do RS, a região serrana de SC, a parte das plantações no PR e uma das regiões mais belas de SP, onde o Tietê ainda tem peixes e bons pontos para banho no próprio rio, além de ter dado uma esticadinha até o MT, cruzando o MS e passando para um banho em Bonito. Deu vida ouvir Baiano, que dali subiria a 040 em sua magrela até Brasília, sim, tudo isso na honrosa magrela, para depois talvez dar um mergulho no Jalapão, e por fim esticar para o Natal no Nordeste.

Depois do café, do dedo de prosa, bem alimentado de boas energias, toquei pela 040 afora. Sábado de feriado prolongado, muitos veículos na estrada, tempo nublado, tocada no ritmo mais lento. Passei por Sete Lagoas, quebrei a direita na altura de Caetanópolis, entrei na 231, e daqui para adiante é o melhor e mais bonito trecho de toda viagem. Rumei direto e só fui parar na entrada de Cordisburgo, para uma foto, óbvio. A única até então:
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Quem teve a oportunidade de conhecer um pouco mais de MG, e pode reparar as diferenças entre as regiões do Estado, sabe precisar o quão único são as paisagens dessa região. Não atoa fui passear por lá pela segunda vez. Não à toa (ainda) essa terra pariu Guimarães Rosa, e presumo dizer que vem da sua origem a maior inspiração para tantas obras maravilhosas. Mas, seguimos adiante, porque como advertiu Riobaldo, em Grande Sertões:
- “quem mói no asp'ro não fantaseia”

Nessa última pernadinha até Diamantina, tocamos de Cordisburgo para Curvelo e por fim chegamos ao nosso destino. Mas, antes fortes emoções vieram à tona. Desde a saída no posto chefão vinha conversando com a patroa, um assunto que teve inicio no desapego de Baiano, por tudo que ele vive com muito pouco, e sempre com um sorriso no rosto, até introspecções mais profundas sobre o quanto estamos (às vezes) imersos em nossas bolhas que não vemos nada muito além. E é sair para estrada que a nossa leitura de mundo muda, e passamos a perceber o quão pequenos somos diante do todo. O que é uma roupa molhada na estrada perto de uma saudade de 2 anos de casa? NADA! Rodar na chuva a noite, com um pouco de frio também não é NADA, perto de um dia inteiro pedalando no sol e sem nada no estômago!

Isso tudo deixaram nossos sentidos mais aguçados, e a gota d´água foi ver uma família bem humilde na beira da estrada, entre Curvelo e Gouveia, vendendo frutas. Ver aquilo e entender o cenário como um todo: família humilde, casa simples, lugar afastado e que dificulta tudo (em todos os sentidos). Ver eles fazendo das poucas oportunidades a sua forma de sobrevivência... Poxa! Não teve como conter a emoção! Ouvi a voz da patroa esmorecendo no intercomunicador, paramos.
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